Marina Silva vai salvar o mundo?!

Marina Silva vai salvar o mundo?!
27/08/2025 por Editorial

Apresentando Marina Silva e Eliane Brum como profetas, ativistas recorrem a uma retórica religiosa e apocalíptica para blindar seus políticos e tecnocratas de qualquer crítica

Enquanto o Brasil se encaminha para realizar uma COP30 na Amazônia, militantes catastrofistas se entregam a uma Saturnália entusiasmada e sinistra. Em uma mistura de horror histérico e expectativas desmedidas, anunciam um fim do mundo que apenas eles poderiam impedir.

Há pouco tempo, Adriana Ferreira Silva publicou uma coluna no Nexo dizendo que Marina Silva e Eliane Brum, editora da Sumaúma, vão salvar o planeta. “Assim como a ministra, Eliane está entre as mulheres cuja incansável atuação alerta para o quão perto estamos do apocalipse”, escreve a colunista, sem pudor de compor um retrato quase profético da colega jornalista.

Mais recente, apareceu o documentário “Apocalipse nos Trópicos”, que manifesta a ansiedade de setores progressistas diante da influência evangélica na política brasileira. O contraste é irônico: os mesmos ativistas que denunciam os discursos religiosos como obscurantistas recorrem, eles próprios, a uma liturgia apocalíptica. O que se vê na Sumaúma não é apenas uma metáfora, mas um credo. Um discurso de dimensões espirituais, que coloca todos os seres humanos em pé de igualdade com os outros seres vivos, convocando-os à comunhão com a terra.

No Nexo, a imagem de Marina e Brum como salvadoras do planeta começa com a afirmação de que, “da Amazônia ao Ártico”, ambas “lideram movimentos que tentam recompor laços, cujo rompimento criou a ilusória sensação de superioridade entre humanos e outros seres que habitam o planeta”. Recompor laços, religar laços — trata-se da construção de uma verdadeira teologia ambientalista, em que a humanidade precisa ser reconduzida ao plano espiritual perdido.

Essa linguagem, longe de ser neutra, embala discursos radicais de ruptura, anti-políticos e sabotadores do diálogo amplo. É uma retórica que grandes ONGs financiam, criando uma tropa de choque para blindar tecnocratas instalados na máquina estatal e nos organismos internacionais.

Quando Ferreira descreve Marina Silva como uma profeta que nos salvará do apocalipse, ela não apenas coloca a ministra acima do Congresso Nacional: ela interdita todo o debate sobre temas espinhosos, como a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Questionamentos técnicos passam a ser tratados como “fogo amigo”, como se discordar fosse martirizar a ministra, cuja aura de boas intenções não poderia ser contestada.

Jornalistas como Ferreira e Brum cumprem, assim, o papel de soldados da fé ativista: atacam qualquer questionador para proteger o sacerdócio tecnocrático.

É claro que não se trata de negar a necessidade de preservar a floresta — talvez Brum tenha encontrado uma intuição válida em sua imersão florestal. O problema é a conversão dessa vivência em militância interditória, incapaz de oferecer um modelo de desenvolvimento realista. Brum pode escrever da Amazônia com internet de qualidade e equipamentos modernos, mas se recusa a pensar na compatibilização dessas tecnologias com a vida das populações locais e com as necessidades do país.

Quando interesses empresariais ou mesmo setores desenvolvimentistas do Estado tentam propor alternativas, logo enfrentam a artilharia da militância: ou são hereges que duvidam da urgência do Apocalipse, ou praticam greenwashing oportunista.

A questão é: as posições de Eliane Brum e de sua corrente favorecem soluções, ou apenas se voltam sistematicamente contra qualquer esforço desenvolvimentista? Como Marina Silva, elevada à condição de profetisa, poderia salvar não só a floresta, mas o destino concreto dos pobres da Amazônia e o futuro econômico do Brasil?

Vale lembrar que a própria Brum, no passado, atribuiu os problemas do Brasil à expansão de uma “religião de mercado” representada pelo neopentecostalismo. Reclamou ainda da dura vida dos ateus em um país dominado por evangélicos.

Nisso, voltamos ao Apocalipse nos Trópicos:

Pastores que lidam com grandes somas de dinheiro? Também há ativistas ambientais movimentando milhões.

Pastores que manipulam fiéis com o terror do fim do mundo? Também há militantes ambientais que anunciam a catástrofe como dogma.

Pastores que atuam politicamente, mas se colocam acima da política, ameaçando reputações? Também os temos na seara ambientalista.

O que há de tão escandaloso com pastores que usam suas bases religiosas para influência política quando ativistas não só usam o tom de certeza absoluta, mas literalmente se apresentam como portadores de uma nova verdade religiosa, uma revolução copernicana que vai mudar toda nossa relação com o mundo e cobrar o salário dos nossos pecados?

Ativistas que se apresentam como os únicos portadores da verdade moral, interditando qualquer divergência como heresia ou negacionismo, imputando culpas coletivas e pedindo coletivas punições como grandes penitências. O que eles oferecem assim de tão esclarecido nesse apocalipse tropical? O que a revelação pessoal deles tem de tão especial? 

Se Marina Silva está destinada a nos salvar do fim do mundo, o debate se encerra antes mesmo de começar. Quando um lado reivindica falar em nome de “todos os seres vivos” contra as forças do mal, a política morre. É o fim do debate, restando apenas a proclamação de fé.

Editorial

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