O artigo de Fausto Macedo, intitulado “A quem cabe proteger a Amazônia?”, publicado no Estadão, levanta questões pertinentes sobre a responsabilidade pela preservação da maior floresta tropical do mundo. No entanto, ao adotar um tom que busca equilíbrio entre diferentes perspectivas, Macedo assume uma posição vacilante que trata a posição pela internacionalização com uma leniência preocupante.
Embora o autor não defenda abertamente a internacionalização, o artigo apresenta nuances que legitimam essa posição como uma possibilidade plausível, como a questão principal a ser debatida com "moderação". O tom moderado de Macedo, ao invés de engajar o leitor em uma defesa firme da soberania brasileira sobre o território amazônico, deixa margem para interpretações que favorecem interesses externos. Essa postura é especialmente delicada em um contexto de intensas disputas geopolíticas e ambientais, onde a Amazônia é frequentemente tratada como um “patrimônio global” por potências estrangeiras.
No momento atual, estimular leituras institucionalistas da realidade internacional — como se o mundo fosse formado por atores esclarecidos dispostos a criar comissões desinteressadas dispostas a perseguir um bem maior, independente dos interesses nacionais — é uma ingenuidade que pode custar caro para os países mais fraco. É prudente pensar como os realistas: o mundo está vivendo um momento de competição feroz entre potências buscando acumular poder.
Para piorar, o que vemos é que mesmo os "ambientalistas esclarecidos", isto é, militantes ideológicos extremistas, estão dispostos a usar instrumentos de poder como os realistas mais ferozes.
Ao tratar a internacionalização como uma posição válida, ainda que indiretamente, o artigo de Macedo subestima os riscos de tais narrativas. A história nos ensina que propostas de “gestão internacional” de recursos naturais frequentemente atendem a interesses econômicos e políticos de grandes potências, em detrimento dos países detentores desses recursos.
Nossa cautela não deve ser no sentido da tolerância para com a "internacionalização da Amazônia", mas cautela como alerta perante o perigo de perda permanente de nossa soberania e de nossos territórios. Não vivemos em condição de igualdade com as outras potências, existem riscos políticos quando falamos de Amazônia. Dentre eles, a fragmentação violenta do território amazônico por forças de narcotraficantes. A única cautela que precisamos é daquela que alimenta uma posição mais assertiva do que a de Fausto Macedo.
O Brasil, enquanto responsável pela maior parte da Amazônia, deve reafirmar seu compromisso com a preservação ambiental, sem abrir espaço para ingerências externas que poderiam comprometer sua soberania, sua população e sua aspiração ao desenvolvimento econômico e social. Não devemos nos descolar das discussões globais, mas as parcerias internacionais devem respeitar a autonomia brasileira e fortalecer o controle nacional sobre a floresta.
Portanto, é imprescindível que discussões sobre a Amazônia sejam conduzidas com um senso de desconfiança fundamentada, especialmente quando envolvem atores externos. O Brasil precisa fortalecer suas políticas ambientais e combater problemas internos, como o desmatamento e atividades ilegais, mas deve fazê-lo com base em um planejamento soberano, que não ceda ao apelo de soluções externas mascaradas de cooperação.
Fausto Macedo falha, assim, em oferecer uma crítica mais robusta e uma visão propositiva sobre o tema. A responsabilidade pela proteção da Amazônia é, em primeiro lugar, do Brasil, que deve liderar os esforços de preservação em diálogo com a comunidade internacional, mas sem abdicar de sua autonomia e protagonismo.
Editorial
Notícias relacionadas
Foto: Anderson Cardoso
@ANDERSON.FOTOGRAFIA